Ricos para Deus
Padre Luiz Fernando
Salmo: 133(132) e 134(133)
O que nos faz lembrar a palavra “rico”? A
pessoa feliz, aquele que tem uma esplendida mansão, um carro novo, muitos
empregados, que pode viajar e permitir-se todas as regalias e prazeres? O
Evangelho de hoje, ao contrário, considera a pessoa rica de uma forma
completamente diferente. Segundo o ensinamento de Jesus, quem acumula bens para
si é um “insensato”, um infeliz, que faz tudo errado na vida. É fácil verificar
que a parábola (história) se divide em três partes, e que a sua parte central é
constituída pelo longo raciocínio que o agricultor mantém consigo mesmo
(versículo 17-19). Penso que todos sabem bem quem é este homem: ele se esforça,
é previdente, consegue ótimos resultados, portanto, tem até sorte e é abençoado
por Deus. Não rouba nada de ninguém. A uma certa altura da vida, tem até discernimento
em saber parar e decidir desfrutar do merecido descanso. Se em toda esta
história alguém se comporta de uma forma incompreensível e, diria eu, quase
cruel, este alguém parece ser o próprio Deus, que não permite a um homem
trabalhador aproveitar os frutos das suas próprias fadigas. Onde está a falha
deste agricultor? Por que é chamado de insensato (versículo 20)?
Se
considerarmos os personagens da parábola, ficaremos surpresos quanto ao número,
pois são unicamente três: Deus, o homem rico e os bens! E nós nos perguntamos:
mas este homem rico não tem família, mulher, filhos? Não tem vizinhos? Não tem
irmãos da Igreja ou de célula? Não mantém contato com seus empregados?
Provavelmente
sim, vive cercado de pessoas, mas não tem tempo, energias para gastar e nem se
preocupa com elas. Não tem tempo para conversar ou para participar de uma
célula, nem se comprometer com a liderança. Não tem sentimentos. Só lhe
interessam aqueles que tratam com ele de negócios, trabalho, ou que podem
ajudá-lo a aumentar seu saldo bancário. Pensa nas colheitas, nos armazéns, nos
cereais, na empresa, em horas-extras exageradas, no escritório. Na sua mente e
vida não há lugar para mais ninguém, nem para Deus. Os seus bens se tornaram “deuses”
para ele e destruíram tudo o que encontraram pela frente (família, amigos, fé
etc). Criaram o vazio ao redor dele, desumanizaram-no completamente. O próprio
agricultor, no fundo , já não é mais um homem, é uma coisa, uma máquina que
produz, faz contas. É uma balança e uma calculadora. Mais do que simpatia,
sentimos por ele, compaixão, dó, pois é um coitado, um infeliz, um “insensato”,
como diz Jesus. Alguma coisa nele se rompeu, porque não tem equilíbrio
interior, perdeu completamente a orientação e o sentido da vida. Analisemos o
seu monólogo: emprega 56 palavras e, dessas, treze delas repetem “eu”, “meu”.
Tudo lhe pertence! Você conhece alguém assim ou é assim? Existem só ele e seus
bens. É “insensato”!
De
repente surge o terceiro personagem: Deus, que naquela mesma noite lhe pede
contas da sua vida. Será que Deus é tão “mau” e “vingativo”? Trata-se de uma
história. Jesus o faz entrar na parábola só para mostrar aos Seus ouvintes
aquilo que na vida tem valor: indicar-lhes o que realmente é importante. O
julgamento de Deus é severo: quem vive para acumular bens materiais é um
insensato!
O pecado: “acumular bens para si”:
Mas
então a riqueza é uma coisa má? De forma alguma! Jesus nunca a condenou. Nunca
pediu que alguém a jogasse no lixo, mas ensinou que devemos partilhar o que
temos. O ideal cristão não é uma vida miserável. A conclusão da parábola mostra
qual foi o erro do rico agricultor. Ele não é censurado porque produziu muitos
bens, trabalhou muito, ou se esforçou, mas por “ter acumulado exclusivamente
para si” e “não se enriqueceu aos olhos de Deus” (versículo 21). Eis onde está
o mal: enriquecer só para si, acumular bens para si, sem pensar nos outros. A
riqueza deve ser multiplicada, mas para todos, e não só para alguns.
Incompatíveis com o Evangelho são a “cobiça”, “ganância” e o “egoísmo”. Quando
as energias de todos os homens estiverem comprometidas para aumentar não o
“meu”, o “teu”, mas o “nosso”, estarão eliminadas todas as causas das guerras,
das discórdias, crimes dos problemas de herança. Como diz o apóstolo: “Pois
o amor ao dinheiro é uma fonte de todos os tipos os males” (I Timóteo
6,10).
Alguém
pode dizer: esta parábola não me diz respeito, porque eu não tenho nem terras,
nem contas no banco, nem casas.
Atenção!
Jesus não alerta só aos que possuem muitos bens, mas quem “acumula para si”.
Alguém pode ter pouco dinheiro, mas ter o coração “como o dos ricos’. Por
exemplo: tem o coração como o dos ricos, o jovem que é pobre, que estuda dia e
noite, com a máxima seriedade, repetindo a si mesmo: ânimo! Um dia vou ganhar
muito dinheiro e gozar a vida. É “rico” porque só pensa em si, pois não pensa
em estudar para ajudar os outros. Enriquece ao invés, “diante de Deus”, aquele
que pensa e ajuda os outros, que usa seus bens e talentos não só para si , mas
para ajudar os outros. Nós só possuímos de fato
aquilo que damos.
Os
tesouros deste mundo são ingratos: não nos acompanham na outra vida. Só o amor
é eterno!
1) Como você administra os seus bens?
2) O que eu e minha célula podemos fazer para ajudar os outros?
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